Artes Performativas a Solo
Cine-Teatro Garrett, Sala de Actos
“Existe um objectivo, mas nenhum caminho; o que chamamos de caminho é hesitação.”
— Franz Kafka
Há aqueles que amamos, que respeitamos, há aqueles que nos são indiferentes, indistintos, indiferenciados e há, também, aqueles que odiamos, que tememos, que desprezamos. Poderá uma só pessoa ser todas essas outras pessoas que compõem a fértil paisagem das relações humanas? Poderá uma só individualidade albergar em si um tão diversificado catálogo de vícios e virtudes que, pela sua simples enumeração e enunciação, duvidamos estar a falar de uma única pessoa? O inesgotável drama da identidade, da multiplicidade do ego, do sermos quem somos face ao que pensam que somos, é o inquietante assunto em tese n’ “A Mulherzinha”. Tendo por base o conto homónimo de Franz Kafka, escrito no ano de 1923 em jeito de mordaz homenagem à sua senhoria em Berlin-Steglitz, este é um exercício cénico sobre a personalidade, a sua percepção e aceitação, sobre o estilhaçar do “eu” em múltiplos fragmentos que alimentam um permanente e irresolúvel conflito entre si. Somos todos, cada um à sua maneira, um cosmos em eterna ebulição. E ninguém mais do que a nossa protagonista que, perante uma moldura vazia, guerreia pela afirmação do seu lugar no mundo.
Inês Simões Pereira nasceu em Almada, Lisboa, em 1989. Trabalha em teatro, desde 2005, integrando várias produções como actriz e ministrando formações com jovens a partir de 2008. Obteve a sua formação profissional na ESMAE – Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo. Já trabalhou com professores, criadores e encenadores como Richard Stourac, Marco António Rodrigues, Jorge Silva Melo, Nuno Carinhas, Lee Beagley, Inês Lua, Luís Varela, Rodrigo Malvar, Catarina Lacerda, Claire Binyon, António Durães, Ewan Downie, etc. Em 2011 funda o Pelintra – Grupo de Teatro Amador d’ A Filantrópica – CRL, co-dirigindo e encenando as suas produções com Pedro Galiza e Crestina Martins. É membro de direcção, produtora e programadora d’ A Filantrópica desde 2013 e do Philantra – Festival de Arte Independente desde 2011. Em 2013, co-funda a Marácula, uma Associação Cultural transnacional, sediada em território nacional, com produções em Portugal e Espanha. O espectáculo a solo “A Mulherzinha” é a sua mais recente produção, inserida no FIS — Festival Internacional de Solos, e é o reflexo do consecutivo exercício de exploração e investigação teatrais.
A partir de “A Mulherzinha”, “À Noite”, “A Ponte”, “Regresso a Casa”, “Descrição de uma Desavença”, “O Abutre” e “Carta a Oskar Pollak”, de Franz Kafka
Ideia original, adaptação, interpretação e voz-off Inês Simões Pereira
Tradução (a partir da versão inglesa de Willa e Edwin Muir), adaptação e encenação Pedro Galiza
Espaço cénico, desenho de luz e figurino Pedro Morim
Sonoplastia Nuno Leites
Produção Marácula – Associação Cultural
Duração ≈ 45 minutos ● M/12
© Foto Nuno Leites